Uma entrevista sobre sustentabilidade com Co e Koen De Heus

08 novembro 2020
-
3 minutos

A De Heus é liderada pela quarta geração da família De Heus. Os irmãos Co e Koen De Heus têm ambos o cargo de CEO e lideram a empresa em conjunto. Entrevistámos Co e Koen para saber mais acerca da forma como vêem a questão da sustentabilidade.

Ambos têm falado muitas vezes sobre a prática da gestão sustentável. Porque é a gestão sustentável tão importante?

Co: “Desde o início do nosso negócio, em 1911, valores como o legado e a liderança têm sido sempre importantes para a família. Sempre nos mantivemos fiéis à convicção de que é necessário cuidar do negócio e do seu legado, mantendo ao mesmo tempo o foco no Futuro.”

“Para além disso, é importante compreender que queremos transferir a empresa para a geração seguinte. Portanto, para nós a sustentabilidade também é a capacidade de manter a nossa actividade viva para as gerações futuras,” diz Koen.


Na vossa perspectiva, qual é a ligação entre gestão e sustentabilidade?

Koen: “Acredito que esta é a altura para reflectirmos na nossa interpretação de “legado” – o que deixamos à próxima geração – e “sustentabilidade” – a nossa responsabilidade de cuidarmos do planeta. Porque quando olhamos para a situação actual das cadeias de produção de alimentos das quais, enquanto companhia de nutrição animal, somos parte integrante, verificamos que há enormes desafios que temos que ultrapassar.”

Co acrescenta: “Precisamente. Olhemos para a quantidade de pessoas que teremos de alimentar em 2050. Espera-se que a população mundial cresça para 9.800 milhões de pessoas nas próximas décadas. Garantir acesso a alimentos seguros, saudáveis e, acima de tudo, a preços acessíveis é um dos maiores desafios com que o mundo se depara no Presente”

Koen continua: “Ao mesmo tempo, temos que reduzir o impacto que os nossos sistemas de produção alimentar têm no clima e no meio-ambiente, de modo a proteger os ecossistemas vulneráveis. Para conseguirmos atingir estes dois objectivos, temos que produzir alimentos de forma mais eficiente, de forma a prevenir a utilização excessiva de recursos naturais no Futuro próximo.”


A vossa opinião acerca da importância da sustentabilidade mudou ao longo dos anos?

Co: “Sem dúvida. Sempre pensámos nas gerações futuras. No Passado, este pensamento poderá ter estado mais focado na empresa e na sua continuidade. Gradualmente, fomo-nos apercebendo que precisávamos de abrir os nossos horizontes e reflectir no impacto que as nossas actividades têm no Clima e nas comunidades dos locais em que operamos. Esta também foi a razão pela qual redefinimos a visão e a missão da nossa empresa há alguns anos.”


Podem contar-nos mais acerca das mudanças que fizeram na vossa visão e missão?

Koen: “Fizemos três alterações muito importantes para nós. Primeiro, dizemos claramente que contribuímos para a produção e disponibilização sustentáveis de alimentos seguros e saudáveis em todo o mundo, protegendo sempre o Clima, o meio-ambiente e o bem-estar animal. Demonstramos assim que nos preocupamos com o impacto das nossas actividades.”

“Em segundo lugar, queremos dar uma contribuição real para o desenvolvimento do sector agrícola nas comunidades em que operamos. Isto significa que queremos que os agricultores desenvolvam os seus negócios ao mesmo tempo que desenvolvemos o nosso,” acrescenta Co.

Koen continua: “Em terceiro lugar, colocamos enfâse no facto de que queremos atingir os nossos objectivos em parceria com os nossos colaboradores. Mostrando que, juntos, nos queremos responsabilizar por um Futuro mais sustentável. Depois do processo de redefinição da nossa visão e missão, também decidimos dar início ao desenvolvimento do nosso novo programa de sustentabilidade, chamado Responsible Feeding,” diz Co.


Em que medida estes pensamentos impulsionaram o desenvolvimento do Programa Responsible Feeding?

Co: “Sentimo-nos responsáveis pelo papel que desempenhamos nas cadeias de produção de alimentos em que operamos. Portanto, quando desenvolvemos o nosso programa de sustentabilidade, olhámos para o que fazemos melhor para vermos onde poderíamos ter maior impacto. Construímos o programa em torno das nossas actividades principais, convertendo matérias-primas em nutrição animal de alta qualidade, melhorando a saúde e bem-estar animal, e ajudando os agricultores a desenvolver os seus negócios e trabalhando em conjunto para solucionar os problemas com que se deparam no seu dia-a-dia. Tudo isto de forma eficaz.”

“Frequentemente iniciamos novas actividades em países em que o sector agrícola está menos desenvolvido. Essas actividades funcionam como um catalisador para o desenvolvimento do sector agrícola, bem como para a melhoria do nível de vida das comunidades locais. Ajudamos os agricultores a melhorar a qualidade da sua produção, para terem acesso aos recursos locais, e partilhamos o nosso conhecimento de produção animal com os nossos clientes, porque acreditamos que partilhar é multiplicar,” acrescenta Koen.


Olhando para o Futuro, quais são as prioridades mais importantes relativamente à sustentabilidade?

Koen: “Se olhar para o Programa Responsible Feeding, cobrimos vários temas relacionados com a sustentabilidade e com as principais actividades da De Heus. Para nós, os mais importantes são os que provavelmente são vistos por muitos como os desafios mais difíceis de ultrapassar quando falamos de produção de proteína animal. A origem das matérias-primas, principalmente da soja, que usamos para produzir as nossas rações, a pegada de CO2 da nossa produção, bem como de toda a cadeia de produção em que operamos.”

“Também a redução do uso de antibióticos, para prevenção da resistência aos antibióticos - que é um grande problema a nível mundial - e, claro, o desenvolvimento dos negócios dos nossos clientes. Partilhando conhecimento com os agricultores para os ajudar a melhorar os seus negócios – por exemplo ajudando-os a mudar os animais de alojamentos abertos para fechados, em países asiáticos, apresentando os resultados dessa mudança e dando-lhes acesso ao conhecimento de que necessitam para o fazer com êxito. Isto é positivo para eles e para as suas famílias, mas também aumenta a produção de forma sustentável, o que, para nós, significa animais mais saudáveis e alimentos mais seguros,” continua Co.

“Tentamos manter-nos focados no desenvolvimento a longo-prazo da nossa companhia e do sector agrícola. Porque acreditamos que a sustentabilidade também é a capacidade de continuarmos a desenvolver as nossas actividades nas gerações futuras,” diz Koen.


É por isso que o programa de sustentabilidade se chama Responsible Feeding?

Co: “Para mim é. Porque demonstra que consideramos a sustentabilidade como uma parte fundamental das nossas actividades. Só conseguiremos enfrentar os desafios globais com que nos deparamos se conseguirmos aumentar a produção de rações e de alimentos para uma população em crescimento de forma responsável. Chamamos-lhe Responsible Feeding porque para nós liga a disponibilização de alimentos seguros, saudáveis e acessíveis para uma população em crescimento com a nossa actividade principal, que é a conversão eficaz de matérias-primas em proteína animal de alta qualidade.”


A De Heus tem actividade em muitos países. Como os ajudam com este programa?

Koen: “Há muitas diferenças entre os países em que operamos. Por exemplo, não se podem comparar as condições de mercado na Holanda com as que existem na Sérvia ou na Indonésia. Ao mesmo tempo, também há muitas parecenças. O acesso a alimentos seguros e saudáveis é importante para todos. E à medida que os países se desenvolvem, vemos surgir os mesmos desafios que muitas vezes já foram ultrapassados em países que se desenvolveram mais cedo.”

“É por isso que desenvolvemos um processo de implementação que leva estas diferenças em consideração. Ajudamos as equipas de gestão das nossas unidades de negócio a analisar quais os temas mais importantes nos seus respectivos mercados, permitindo-lhes focar-se nas actividades de sustentabilidade que têm mais impacto nas comunidades em que operamos,” acrescenta Co.

Koen: “Acreditamos que é importante permitir tanta iniciativa local quanto possível, porque as pessoas envolvem-se mais quando podem ter um impacto real naquilo em que estão a trabalhar. Mais, estamos a trabalhar numa quantidade de objectivos globais para definir directrizes nas mais prementes questões de sustentabilidade associadas com o nosso sector.”


Como envolvem os vossos colaboradores e qual é o seu grau de entusiasmo com este programa?

Koen: “Sabemos que o programa produz um elevado nível de entusiasmo na organização. Especialmente entre a geração mais jovem. Isso é bom, porque os passos que temos que dar nos próximos anos precisam não só do apoio e entusiasmo que eu e o Co possamos fornecer, mas também do que possa ser introduzido pelos nossos colaboradores. Acredito mesmo que este programa só poderá ser um sucesso se toda a gente o apoiar e partilhar as suas ideias acerca do que podemos fazer para o melhorar.”

“Aqui, a comunicação interna e externa é fundamental. Partilhamos muitas histórias acerca das actividades que promovemos nas nossas unidades de negócio. Tentamos envolver e inspirar cada vez mais os nossos colegas. Por exemplo, recentemente fomos anfitriões de uma cimeira global sobre sustentabilidade na qual colaboradores de todo o mundo se juntaram a nós online para falar acerca dos nossos objectivos de sustentabilidade global.”


Pode dizer-nos um pouco mais acerca destas ambições de sustentabilidade global?

Co: “Claro. Estas nossas ambições – a que decidimos chamar de global green goals – levam-nos a enfrentar questões globais acerca das quais falámos antes. A sustentabilidade das matérias-primas que processamos, a nossa pegada carbónica, a redução de antibióticos e, obviamente, o apoio aos agricultores no desenvolvimento dos seus negócios. Acreditamos que estas questões são relevantes em todas as nossas unidades de negócio e merecedoras de liderança e direccionamento ao nível do Grupo.”

“Queremos atingir estes objectivos em 2030, ligando-os ao horizonte dos objectivos de desenvolvimento sustentável – como definido pelas Nações Unidas – e permitindo-nos enfrentar desafios difíceis, o que não se pode alcançar em um ou dois anos. Definir estes objectivos ajuda-nos a integrar a sustentabilidade na nossa estratégia,” acrescenta Koen.


Como é que estes global green goals se relacionam com o Programa Responsible Feeding?

Koen: “O Programa Responsible Feeding baseia-se na premissa de que cada país enfrenta os seus próprios desafios. Cada unidade de negócio tem que escolher as actividades que têm maior impacto nos mercados e comunidades em que opera. Todas as unidades de negócio são sujeitas ao mesmo processo de implementação, mas o resultado será diferente, dependendo dos desafios locais. Os global green goals são os mesmos para todas as unidades de negócio e são colocados no topo das actividades locais, porque acreditamos que os objectivos são importantes, independentemente do mercado e comunidade locais. São, realmente, desafios globais que merecem uma resposta global.”


Quais são as actividades de que mais se orgulham?

Co: “Acho que a pesquisa que fizemos ao longo dos últimos 20 anos para melhorar a taxa de conversão alimentar dos nossos produtos é o que tem maior impacto. Porque se precisarmos de menos matérias-primas para produzir a mesma quantidade de proteína animal, isso é mais sustentável e permite-nos aumentar a produção à escala global.”

“Ajudar os agricultores a desenvolver e profissionalizar os seus negócios também tem um grande impacto. Quando olho para trás, para as primeiras actividades da De Heus fora dos Países Baixos, fico verdadeiramente orgulhoso por ver que há agricultores que desenvolveram os seus negócios juntamente com o nosso. Muitas vezes em países onde o acesso a alimentos seguros e saudáveis ainda é uma luta diária. Essencialmente, as nossas actividades ajudaram a fortalecer as cadeias de produção alimentar das quais somos parte integrante,” acrescenta Koen.